Síndrome dos projetos malfeitos

O que a ciclovia que desabou, no Rio de Janeiro, em abril, e os trens do metrô de São Paulo, estacionados em um pátio enquanto as linhas não ficam prontas, têm em comum? No Brasil, os projetos não atendem ao escopo, nem ao prazo, muito menos ao custo planejado. Os resultados estão à vista de todos, e nem me refiro à corrupção e, sim, à inadequação de propostas mal colocadas.

Na área da saúde, ambulâncias enferrujam, equipamentos sofisticados se deterioram e alas hospitalares inteiras, semiprontas, acumulam poeira, sem uso, enquanto cidadãos são atendidos no chão dos corredores, quando não têm a infelicidade de falecer em frente à instituição de saúde, por falta de atendimento.

Remédios vencidos são jogados fora, porque perdem a validade. São comprados sem análise adequada do histórico de utilização e da logística de distribuição e entrega.

A obra da Barragem Ingazeira, no Sertão pernambucano, que começou a ser estudada em 1981 (sim, há 35 anos!), e a ser construída em 1998 (há quase 20 anos) ainda não foi concluída. Por isso, cerca de 50 mil habitantes de Ingazeira, São José do Egito, Tabira e Tuparetama continuam recorrendo a carros-pipa e a poços artesianos. Novamente, erros de escopo, prazo e custo, seguramente.

Poderíamos empilhar exemplos assim por este Brasil afora, pois, lamentavelmente, não faltam casos de desperdício do dinheiro público. Mais do que isso, de frustração das expectativas da população, principalmente a de mais baixa renda, que depende muito dos investimentos públicos.

Para piorar, muitas obras são concluídas com graves problemas de qualidade. Em vários locais do país, há reclamações sobre má qualidade em casas e apartamentos recentemente entregues pelo programa "Minha Casa, Minha Vida", com infiltrações e problemas elétricos.

É óbvio que há excelentes profissionais em engenharia e construção no país, aptos a fazer bons projetos e obras. Temos longo histórico nesta formação: em 1858, foi criada a Escola Central, no Rio, com cursos de Engenharia.

Há, no país, casos de sucesso como a Ponte Rio-Niterói, a Usina Hidrelétrica de Itaipu e obras arquitetônicas renomadas, inclusive o Distrito Federal, fruto da combinação da genialidade de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer.

Outras, contudo, se arrastam, como a Transposição do Rio São Francisco, que deveria beneficiar centenas de municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, prometida para até 2012.

Além do atraso, já foram gastos R$ 10 bilhões na construção dos canais e R$ 2,2 bilhões na revitalização do rio. Recentemente, foi anunciado o programa "Novo Chico", para terminar as obras de saneamento nas cidades na bacia do rio, desassorear o leito (retirar areia, detritos e entulhos), recuperar mananciais e etc. Mais R$ 10 bilhões até 2026. Novamente, dificuldades no escopo, prazo e custo!

André Navarrete é presidente do Optimize Group e do Grupo de Gestores de TI (GGTI) vice-presidente da Associação dos Usuários de Informática e Telecomunicações de Pernambuco (Sucesu-PE) Leia a revista

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