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Não há regras que controlem a Geração Y

Há alguns anos, um empresário recebeu a missão de transformar totalmente o departamento da empresa onde atuava como líder. Alterar as rotinas da organização e alguns processos, para reduzir custos, era uma de suas metas.

Percebendo que a equipe da empresa apresentou poucas propostas transformadoras, ele contratou cinco jovens talentosos, que tinham como características um ótimo grau de instrução, criatividade, mas nenhuma experiência, aos quais chamou de Time Y. Após três meses, cada integrante do Time Y foi desafiado a apresentar uma proposta inovadora que trouxesse resultados financeiros relevantes para uma área da empresa. A equipe apresentou cinco projetos bem elaborados e definidos que trouxeram uma economia de vários milhões de dólares.

Esse empresário chama-se Sidnei Oliveira, que já escreveu três livros sobre a Geração Y, e outros três sobre jovens e profissões. Ele é também consultor em gestão empresarial, palestrante, fundador dos sites Achei!! e Zeek!, colunista e articulista da Exame e presidente da Sidnei Oliveira e Mentores, que atende várias empresas.

O que a iniciativa trará de inovador para a área de tecnologia?
A experiência contada no meu livro é verídica e me mostrou o quanto esses jovens têm potencial para produzir e inovar quando não são limitados por controles e regras. Eu coloquei o Time Y, que escolhi para a empresa, no centro do nosso escritório, em uma sala de vidro, para que todos pudessem observá-los. Instruí a equipe a ocupar metade do tempo lendo revistas e livros no horário do trabalho. Promovi sessões de cinema para a turma. Na outra metade do tempo, eles deveriam visitar outras áreas da empresa para conhecer todos os detalhes do processo e conversar com profissionais. A reação dos outros profissionais do departamento foi de rejeição total. Para eles, o Time Y não passava de um bando de protegidos que não produzia nada de útil. No entanto, eles mostraram totalmente o contrário, e o resultado da experiência foi excelente!
 
Como as gerações anteriores devem lidar com as atuais?
Nosso maior desafio como líderes desses jovens é reduzir nossas expectativas quanto às regras de controle como horários, forma de vestir e de fazer as coisas, dando a devida importância aos significados da escolha de cada um, aos valores de vida presentes nesses significados e aos resultados e consequências que suas escolhas proporcionarão no futuro.
 
Como você define os jovens da geração Y?
É um jovem um pouco mais conectado, ligado, vinculado a esse movimento global que estamos vivendo. Ousadia, questionamentos constantes. Características associadas a uma capacidade tecnológica muito mais intensa. Facilidade quando interage com os aparatos do mundo moderno. E é o jovem de múltiplas tarefas, que consegue acessar vários aparelhos tecnológicos simultaneamente.
 
Qual a diferença entre essa geração e a geração Z? Ainda é muito sutil. São gerações muito próximas de comportamento. O principal ponto é que a questão da conexão: é mais intensa na Z. Jovens da geração Z não conhecem o mundo sem internet. Vive numa realidade na qual a internet é parte operante da vida dele.
 
Há algum ponto negativo nesses segmentos? Quais são?
A fragilidade. São pessoas que, geralmente, têm dificuldade de lidar com frustrações, porque foram poupadas ao longo da vida. Não querem renunciar, o que retarda as escolhas. Quando é confrontado de maneira mais séria, costuma paralisar. O jovem de hoje, para os gestores, muitas vezes não se apresenta como alguém comprometido. Essa é a maior reclamação dos gestores com relação aos profissionais. Essa característica é prejudicial porque, quanto mais frágil se é na maturidade, mais tempo se leva para fazer escolhas acertadas, por medo de correr riscos que possam representar alguma consequência direta. Há também falta de engajamento. Nada disso é bem visto pelo corporativo. Na geração Z, essa fragilidade é ainda mais evidente.

De onde surgiram os nomes das gerações?
É preciso tomar cuidado para não estereotipar, porque essas denominações não são científicas. São baseadas em argumentações e não há nada comprovado. É uma coisa mais do senso comum. As primeiras classificações surgiram em 1992, quando os autores William Strauss e Neil Howe citaram, em uma pesquisa, os baby boomers e a geração X, jovens da década de 80 e 90, nascidos em 60 e 70. Para o termo geração Y há várias histórias, mas a mais curiosa é a de Yoáni Sanchez, fundadora do blog Generation Y, que teve o acesso suspenso no país onde ela vive. Há uma série de outros termos dados, também, como 'geração jeans', 'castelo rá-tim-bum', 'nemnem', que significa nem trabalha, nem estuda. Nomear geração é comum, a questão é se o nome será adotado.

Seu livro fala que essa é a primeira vez que cinco gerações convivem juntas. Que gerações são essas?
A primeira coisa é que há um aumento da expectativa de vida percebido nos últimos 30 anos. Mais pessoas permanecem vivas, o que provoca o colapso de várias gerações. Você hoje deve conhecer alguém com 80 ou até 90 anos. São pessoas da Belle Époque. As crianças desse período, conhecido como geração tradicional, viram o mundo mergulhado em uma grande depressão econômica, além de terem presenciado a Segunda Guerra Mundial. Foi um tempo dramático para educar os filhos. Aí você tem o pessoal da Geração Baby Boomer, que nasceu nos anos dourados, mas rebelaram-se para viver os anos rebeldes a Geração X, que viveu em um período de revolução política em vários países e viu o surgimento da televisão. E, por último, as gerações Y e Z.

Até que ponto estar conectado muito tempo é prejudicial?
Até o ponto em que a pessoa não tem mais controle sobre isso. Por exemplo, estou dirigindo e não consigo me desconectar. Isso é uma armadilha. É igual ao pai que fala para o filho: hoje vou fazer as manias dele, porque ele está doentinho.
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