Sem lenço, com documento!

Estava a caminho de Curitiba. Saí cedinho do interior de São Paulo, onde passei uma temporada com meus pais durante a pandemia em 2020. Nem tomei café direito, pois planejava chegar para o almoço na capital paranaense. Peguei a Rodovia Regis Bittencourt e duas horas e meia depois parei para esticar as pernas e tomar aquele cafézinho, que não sei por que parece ser mais gostoso na estrada. Foi aí que veio o susto! Não achava minha carteira. Procurei em todos os lugares do carro, embaixo do banco, na mochila, na mala e nada. A ficha caiu, esqueci a carteira! Estava quase na metade do caminho, há mais de 200 km do ponto de partida e retornar naquele momento para buscar a carteira não era uma hipótese plausível, afinal seriam mais de 400 km para ir e voltar até onde eu me encontrava naquele momento. Parei para pensar um instante. O que eu preciso que está na minha carteira? Cartão de crédito? Eu tenho no celular. Carteira de Habilitação? Eu tenho no celular. Documento do veículo? Eu tenho no celular. Dinheiro? Posso sacar só com o leitor biométrico. Resumindo, não preciso de carteira! Continuei a viagem e passei uma temporada de uma semana em Curitiba sem carteira e sem nenhum contratempo.

No relato acima, dois apps da área pública me ajudaram a resolver o problema, a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e o CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo). Recentemente temos visto nossa relação com a entidade pública mudar além disso, embora me pareça que poucos tenham percebido de fato a importância dessa mudança.

FGTS, INSS, CTPS e até a vacinação. Para tudo temos um app do governo federal. Alguns já existiam, é verdade, mas agora funcionam mesmo! Recentemente descobri que no app FGTS eu consigo ver toda a minha carreira na palma da mão. Não só isso, no app CTPS Digital (Carteira de Trabalho Digital) também visualizo toda a minha carreira profissional e pasmem, está igualzinha a minha CTPS física, exceto pela ausência das anotações. Como assim? Eu não entreguei minha CTPS pra ninguém!? Em outro app, MeuINSS, eu consigo ver quanto tempo falta para eu me aposentar. E pelo ConecteSUS eu agendei minha vacinação contra covid-19 e emiti o certificado de vacinação. Eu não precisei me dirigir a nenhum órgão público para ter tudo isso. Apenas baixei os apps e me cadastrei. Isso deveria ser normal, mas não era. Poderíamos ter isso funcionando há anos ou pelo menos há uma década.

Essa revolução digital silenciosa, segundo a Secretaria Especial de Desburocratização, já gerou uma economia de mais de R$ 2 bilhões por ano, 75% dela para a população. Até janeiro desse ano o portal gov.br oferecia 4.137 serviços de 193 orgãos federais, dos quais 2.670 (64,5%) são totalmente digitalizados e mais de 88 milhões de cidadãos já estavam cadastrados (dados de janeiro de 2021). A meta do Governo é digitalizar 100% de seus serviços até o final do próximo ano.

Outro avanço inegável ocorre nos meios de pagamento. O PIX, criado recentemente pelo Banco Central, já ultrapassou o número de transações de boletos, DOCs e TEDs somados. Semana passada eu paguei um acarajé com PIX porque a Baiana não tinha troco. Quem mais está se beneficiando do PIX são os que mais precisam. Ambulantes, pequenos comerciantes e prestadores de serviços aderiram em massa à novidade. Ah, como eu amo a tecnologia!

A vida da gente tem sido mudada aos poucos para uma vida digital e sem que percebamos velhos hábitos são substituídos por Apps e SaaS*. O celular passou a ser o centralizador de tudo isso. É o canivete suíço do homem moderno. Lanterna, calculadora, máquina fotográfica, carteira de identidade, cartão de crédito, banco e de vez em quando serve até para telefonar para alguém. Para os pessimistas, vale lembrar que o Brasil está entre os cinco países com maior número de celulares em utilização no mundo. Temos mais celulares ativos do que habitantes.

Agora eu deixo minha carteira em casa na maioria das vezes. Infelizmente a insegurança ainda não permite que a gente leve o smartphone para todos os lugares. Mas a própria tecnologia também vai resolver esse problema em um futuro muito próximo.

*SaaS é a sigla em inglês de “Software as a Service” ou “Software como serviço”, em português.?

Augusto Barretto é administrador de empresa, pós-graduado em marketing e fundador da Revista TI Nordeste. Leia a revista
Editorial, 08.SETEMBRO.2021 | Postado em Artigo

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